“Estamos lutando pelo mínimo”: greve revela abandono dos trabalhadores do transporte em Teresina

Enquanto os usuários se revoltam com a situação cada vez mais comum, um outro lado da greve também merece atenção: a realidade dos motoristas e cobradores.

Para quem depende do transporte público diariamente em Teresina, a rotina tem sido marcada por atrasos, paralisações e greves. Enquanto os usuários se revoltam com a situação cada vez mais comum, um outro lado da greve também merece atenção: a realidade dos motoristas e cobradores.

Foto: Tamyris LealTrabalhador do transporte público
Trabalhador do transporte público

A greve tem como principal reivindicação um aumento de 15% no salário, além de R$ 900 em ticket alimentação e R$ 150 de auxílio saúde.

A medida é reflexo de um cenário de insatisfação crescente entre os trabalhadores, que denunciam jornadas exaustivas, atrasos constantes no pagamento, corte de benefícios e aumento da insegurança nos coletivos. A prefeitura, por sua vez, afirmou que não possui recursos para ampliar o subsídio ao transporte público, agravando ainda mais o impasse.

A realidade dos profissionais do setor é marcada por sobrecarga. Segundo levantamento realizado com os trabalhadores:

- 60% acordam de madrugada;

- 44% não tomam café da manhã;

- 90% não têm intervalo para almoçar;

- 80% não têm intervalo para descanso;

- 55% começam a trabalhar antes das 5h e chegam em casa depois das 15h.

“Me sinto humilhado, porque a gente acorda cedo, nem toma café, não descansa, só anda com estes ônibus lotados e o patrão diz que não tem dinheiro. Como não tem dinheiro se a gente carrega mais de 600 passageiros por dia?”, questiona um motorista que preferiu não se identificar.

Com salários atrasados e a retirada de benefícios, muitos trabalhadores têm buscado outras fontes de renda para sobreviver.  É o caso de Davi Santos, funcionário de um de ônibus empresa “Eu trabalho em aplicativo de Uber nas horas vagas, conserto celular e às vezes faço uns bicos de motorista para conseguir pagar as despesas básicas.”

A insegurança também é um fator alarmante. Assaltos e arrastões são recorrentes, e todos os motoristas e cobradores entrevistados afirmaram já ter sido vítimas de pelo menos um roubo dentro dos ônibus.

Em muitos casos, as empresas descontam dos funcionários o valor levado pelos criminosos. “Me senti assaltado duas vezes, uma pelo bandido e a outra pelo empresário”, desabafa Sérgio Wesley, cobrador da empresa TRANSFÁCIL. “É humilhante ser assaltado e ainda ter que ressarcir a empresa”, acrescenta Jorge Alberto, também cobrador.

A greve surge, portanto, como uma medida extrema diante da falta de diálogo e respeito às demandas da categoria.

“Estamos lutando por um salário digno e condições básicas de trabalho. O que estamos pedindo não é luxo, é justiça”, afirma o motorista Jeorge Antônio. “A paralisação é nossa forma de pressionar por um salário digno”, completa.

A mobilização dos trabalhadores deve continuar até que haja uma resposta concreta dos empresários e da gestão municipal. Enquanto isso, a população também sente os reflexos da crise, com a redução da frota em circulação e atrasos nas linhas.

Fonte: JTNEWS

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