Pelo fim da opressão, ainda: 100 anos depois, o chamado a Paulo Freire vive
O centenário de nascimento de Paulo Freire enseja uma exposição em São Paulo e a reedição de seus livrosÉ simbólico, para não dizer revolucionário, que o centenário de Paulo Freire seja comemorado em setembro de 2021. Mais exatamente no dia 19, pouco depois de o País atravessar a intentona golpista estrelada pelo presidente Jair Bolsonaro e por alguns milhares de seguidores seus.

As obras do educador, filósofo e escritor pernambucano deixaram fortes pistas sobre a inquietude destes tempos de crises sanitária, política, social e cultural. Sua defesa da educação popular como instrumento de emancipação social e política extrapolou os limites escolares. Paulo Freire falou sobre opressões e desigualdades sistêmicas e deu importantes contribuições em prol da cidadania, da solidariedade e da tolerância.
Em Pedagogia da Autonomia, seu último livro publicado em vida, Freire escreveu: “A solidariedade social e política de que precisamos para construir a sociedade menos feia e menos arestosa, em que podemos ser nós mesmos, tem na formação democrática uma prática de real importância.A aprendizagem da assunção do sujeito é incompatível com o treinamento pragmático ou com o elitismo autoritário dos que se pensam donos da verdade e do saber articulado”.
Não à toa, os 100 anos de seu nascimento ensejam iniciativas que permitem que sua história e seu legado sejam revisitados e atualizados.Em São Paulo, Paulo Freire será o homenageado da 53ª edição do programa Ocupação, do Itaú Cultural. A exposição, que abre no sábado 18 e vai até 5 de dezembro, percorre a trajetória de Freire desde a sua infância, no Recife, até a sua morte, em São Paulo, em 1997.
A mostra destaca o trabalho de alfabetização de adultos realizado pelo educador em Angicos, no Rio Grande do Norte, no início da década de 1960, e o desdobramento da da experiência em outros estados brasileiros, como Acre, Rio de Janeiro, Santa Catarina, São Paulo e Distrito Federal.Há ainda um capítulo dedicado ao exílio vivido por Freire no Chile, durante 16 anos, como resultado da perseguição sofrida pela ditadura.Nesse período, o autor escreveu uma de suas obras mais populares, a Pedagogia do Oprimido, publicada pela primeira vez em 1968.
No período que vai de 1980 a 1997, a Ocupação refaz os passos do autor no retorno ao Brasil, após sua anistia, enumerando as experiências de Freire como professor em círculos universitários como a Pontifícia Universidade Católica de São Paulo e a Universidade de Campinas, e sua passagem como secretário municipal de Educação na cidade de São Paulo, durante a prefeitura de Luiza Erundina.
Há, por fim, um eixo dedicado às experiências internacionais derivadas do trabalho de Freire, que coleciona ao menos 41 títulos Honoris Causa por universidades da Europa e da América. Em 2018, um levantamento feito pelo professor Elliot Green, associado da London School of Economics, por meio da ferramenta de pesquisa para literatura acadêmica Google Scholar.mostrou que Freire é o terceiro pensador mais citado do mundo em universidades da área de Humanas.
Para o gerente do núcleo de Audiovisual e Literatura do Itaú Cultural, Claudiney Ferreira, que integra a curadoria da mostra, a iniciativa ajuda a desmitificar percepções enganosas que teimam em colocar o educador em um lugar de “doutrinador” ou de atribuir a ele as mazelas educacionais do País, perpetuadas pela falta de compromisso público e investimento. Os curadores desejaram registrar ainda sua contribuição para além da educação.
Fonte: JTNEWS com informações da Carta Capital
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