Debate Presidencial entre Kamala Harris e Donald Trump; por Henry Michel Anglade
Um encontro de visões contrastantes para o futuro dos EUANa noite dessa terça-feira, dia 10 de setembro, aconteceu nos Estados Unidos o grande debate entre os candidatos à presidência nos Estados Unidos. Diferente do embate entre Biden, antes da sua renúncia à reeleição americana e o de Trump, no dia 22 de junho, o debate desta terça foi a oportunidade de ver dois estilos diferentes da política americana, com propostas muito diferentes. Com efeito, como podíamos prever, neste debate algumas questões estariam no centro, entre elas a imigração, a política externa, a economia, clima e meio ambiente, questões sociais e direitos civis, sem esquecer a segurança interna e internacional, dando ênfase às duas guerras Rússia/Ucrânia e Israel/Palestina.
Considerando os estilos de comunicação entre os dois candidatos, pudemos ver uma Kamala muito pragmática. Conhecida por seu estilo direto e firme, Harris seguiu seu histórico de confrontar opositores de maneira incisiva, especialmente em questões jurídicas, da mesma maneira que fez no debate vice-presidencial de 2020 contra Mike Pence; ela demonstrou habilidade em argumentar sem perder a compostura. Do outro lado, tivemos um Donald Trump, como sempre agressivo e disruptivo, muitas vezes desafiando as normas tradicionais de debate, tentando interromper sua oponente, usar ataques pessoais e slogans populistas para manter o controle da narrativa como fez no final de junho contra o atual presidente americano Joe Biden.
No que pode ser o único e último debate entre os dois candidatos, na Filadelfia, no estúdio da ABC News, emissora que organizou o enfrentamento, Kamala fez questão de colocar a economia americana no centro dos seus projetos sem esquecer de mencionar os problemas envolvendo Trump com a justiça norte-americana. Do outro lado, Trump, como veterano e habituado a estas situações, se apoiou na sua política contra a imigração como sua principal bandeira. Em vários momentos, o ex-presidente se viu na defensiva, sendo reprimido pelos moderadores.
“Eu acredito nos sonhos nas aspirações do povo americano” (Kamala, 2024). Ao apresentar a sua política econômica de oportunidade, centrada na classe média e nas pequenas empresas, a candidata Kamala se apoiou na sua própria história de vida como fruto da classe média, tendo duras criticas ao candidato Donald Trump, que para ela, quer governar para uma parcela da sociedade americana, os mais ricos. Donald Trump por sua vez defendeu seu plano de impor uma tarifa sobre importações, centrada em produtos vindos da China, afirmando que a proposta não elevará a inflação. Argumento fortemente rebatido por Kamala. Ainda, o candidato Republicano acusou os democratas de terem destruído a economia americana, acusação mais uma vez rebatida por Kamala Harris alegando que a política do ex-presidente para Pequim "vendeu" o país, citando a exportação de chips e produtos de alta tecnologia.
Além da economia, outro tema importante neste debate foi a questão do aborto. Trump defendeu a posição da Suprema Corte, em 2022, de delegar a decisão sobre as políticas relacionadas ao aborto aos estados, destacando a coragem dos juízes conservadores indicados por ele. No entanto, no momento de tomar alguma posição, ele não disse se vai apoiar ou não uma proibição nacional da interrupção de gestação e nem soube responder sobre as posições do seu candidato a vice-presidente, J.D. Vance, sobre o tema. Do outro lado, Kamala defendeu a liberação do aborto, relatando casos de mulheres que morreram ao tentar abortos clandestinos e ilegais. Para ela, nenhum governo nem nenhuma fé podem dizer a uma mulher o que ela pode fazer com seu corpo. Assim, ela prometeu levar ao congresso um projeto para estudar a liberação nacional do aborto.
Sobre a imigração, Kamala criticou o seu oponente de ter feito de tudo para prejudicar a imigração legal, julgando a política migratória do ex-presidente como uma das mais duras da história. E Trump, por sua vez, afirmou que se Kamala for eleita, ela fará dos Estados Unidos uma outra Venezuela. Para se desvincular das acusações feitas por sua adversária política, Donald Trump, em vários momentos, criticou a imigração, e chegou a afirmar que imigrantes comem cachorros e gatos no país, o que foi automaticamente refutado pelos moderadores. No entanto, o ex-presidente insistiu em dizer que o país foi invadido por imigrantes ilegais e criminosos.
Falando sobre a guerra Israel/Palestina, a atenção foi voltada para Kamala. Vale lembrar que seus comícios têm sido alvo de protestos pró-Palestina por conta do apoio que o governo de Joe Biden tem dado a Israel desde o início do conflito. Em várias ocasiões e sem riscos, a democrata disse apoiar o direito de defesa de Israel, mas achar que "vidas inocentes demais foram perdidas em Gaza", e, por isso, defende o acordo de cessar-fogo e a solução de dois Estados. Enquanto isso, Trump acusou a sua adversária de odiar Israel e os países árabes. Ainda, de forma muito enfática sobre o tema, ele afirmou que, se ele estivesse presidente, a guerra não teria existido. E sobre a guerra Rússia/Ucrânia, ele acredita poder contar com seu bom relacionamento com os presidentes dos dois países, Putin e Zelensky, para dar um fim à guerra. Ele também criticou o atual presidente Joe Biden de não conseguir estabelecer nenhum relacionamento com os dois presidentes. Ao que a Kamala fez questão de responder, dizendo que o embate é entre Trump e ela e não com Biden.
Vários outros assuntos foram debatidos, entre eles, os quatro processos criminais contra o candidato republicano, como a condenação no caso ligado ao pagamento pelo silêncio de uma atriz pornô antes da eleição de 2016. Para Kamala, é hora de abandonar as velhas propostas irrelevantes e apresentar propostas para o futuro. Trump, do seu lado acredita que o atentado que ele sofreu é fruto da campanha do Partido Democrata contra ele: “Eu provavelmente levei um tiro na cabeça por causa das coisas que eles dizem sobre mim. Eles falam sobre democracia, eu sou uma ameaça à democracia. Eles são a ameaça à democracia’. Também, quando foi perguntado sobre os seus planos para melhorar a saúde pública no país, Trump reconheceu que não tem um plano para substituir o modelo implantado por Obama para ampliar o acesso à saúde pública, enquanto Kamala promete fortalecer o sistema atual, dando oportunidade a todos os americanos para ter acesso a um sistema de saúde digna.
E ao ser questionado sobre a sua responsabilidade no ataque ao capitólio, quando os seus apoiadores tentaram impedir a confirmação de Biden como presidente, Trump respondeu que não teve nada a ver com isso e que não era responsável pela segurança. Ele apenas citou o discurso que fez pouco antes do ataque, motivando os seus a irem até o Congresso.
Sobre a questão das relações externas, Kamala afirma que durante o seu mandato como vice-presidente americana, nas suas relações com lideres mundiais, Donald Trump é visto como motivo de vergonha para os americanos e por isso, como presidente, ela fará de tudo para realçar a imagem dos Estados Unidos diante de líderes políticos e militares no mundo inteiro. Ainda, no campo de relações externas, Kamala ataca o acordo que Trump firmou com o grupo islâmico Talibã, em fevereiro de 2020, que pavimentou a desastrosa saída dos EUA do Afeganistão, em agosto de 2021.
Em conclusão, durante todo o debate, vimos dois candidatos apegados às suas ideias e projetos. De um lado, temos Trump, que continua firme no seu propósito de combater a imigração nos país, alegando que o declínio da economia norte-americana está relacionado ao crescimento da imigração. Do outro lado, vimos uma Kamala decidida em inspirar uma nova geração de líderes, capazes de agregar o povo americano com propostas de inclusão e sem discriminação por questões de sexo, raça e gênero. Como durante toda a campanha, ela encerrou o debate com um olhar para o futuro, dando às famílias americanas e a todos que vivem no país uma esperança de um futuro melhor. “Esse é o tipo de presidente que precisamos. Que olhe para você, e não pense nele primeiro”, disse.
Henry Michel Anglade é um filósofo e internacionalista haitiano especializado em relações internacionais e desenvolvimento. Ele é conhecido por suas análises e estudos sobre as dinâmicas globais, política internacional e a situação socioeconômica de países em desenvolvimento.
Fonte: JTNEWS
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