Silvio Barbosa

Professor concursado do Curso de Comunicação Social da UFPI, campus Teresina. Doutor em Comunicação e Mestre em Filosofia do Direito é advogado e jornalista, com 24 anos de experiência de mercado, tendo trabalhado em empresas como Rede CBS (Estados Unidos), Globo, Bandeirantes, Record e TV Cultura. Autor dos livros TV e Cidadania (2010) e Imprensa e Censura (no prelo) e dos documentários Vale do rio de lama - no rastro da destruição, e Sergio Vieira de Mello, um brasileiro em busca da paz no mundo.
Professor concursado do Curso de Comunicação Social da UFPI, campus Teresina. Doutor em Comunicação e Mestre em Filosofia do Direito é advogado e jornalista, com 24 anos de experiência de mercado, tendo trabalhado em empresas como Rede CBS (Estados Unidos), Globo, Bandeirantes, Record e TV Cultura. Autor dos livros TV e Cidadania (2010) e Imprensa e Censura (no prelo) e dos documentários Vale do rio de lama - no rastro da destruição, e Sergio Vieira de Mello, um brasileiro em busca da paz no mundo.

O Papa, a Amazônia e o Anticristo

Sob ataques, Francisco discute o meio-ambiente

Sob pesado ataque, dentro e fora da Igreja, o Papa Francisco abriu, no Vaticano, o Sínodo da Amazônia, o primeiro em dois mil anos de Cristianismo a debater as questões de um único bioma, no caso, uma região imensa, dividida por 8 países independentes, entre eles o Brasil, e, ainda, pela Guiana Francesa, um território colonial.

Foto: GIUSEPPE LAMI (EFE)Papa Francisco na missa que abriu o Sínodo da Amazônia, no Vaticano
Papa Francisco na missa que abriu o Sínodo da Amazônia, no Vaticano

Com o título “Amazônia: Novos caminhos para a Igreja e para uma ecologia integral”, o Sínodo que, desta vez, além de religiosos, reúne indígenas e cientistas, é uma reunião extraordinária no dia a dia da Igreja, convocado pelo Papa para discutir assuntos específicos e sugerir o que fazer diante da questão em análise.

Mas que problemas tão graves envolvem a ação na Igreja Católica na Amazônia para atrair a ira de tantos grupos conservadores, políticos e religiosos, como evangélicos e até mesmo católicos, que chegam a acusar o Papa de ser um Anticristo, que quer transformar a Igreja em ONG defensora do meio-ambiente?

É preciso ir por partes para explicar porque Francisco levantou tantos ódios contra si nesse Sínodo.

Do ponto de vista político, a reunião extraordinária, convocada há dois anos, coincide com o inferno astral do governo Bolsonaro, que não soube lidar corretamente com os graves incêndios que atingiram a região Amazônica. Primeiro, o governo demorou para reagir, depois, minimizou o alcance da destruição, tentando desmentir órgãos científicos respeitados como o INPE, no Brasil, e a NASA, nos Estados Unidos, e, por fim, acusou grupos ambientalistas de porem fogo na floresta como sabotagem. O governo errou em todas as avaliações e lançou a ira internacional contra o Brasil. Por isso, para os aliados de Bolsonaro, tão chegados numa teoria conspiratória, tocar no tema Amazônia agora só pode ser uma ação da Igreja Católica contra o governo.

Descontado o fato de que a Amazônia não é monopólio brasileiro, já que se estende por tantos países vizinhos, já percebemos que o Sínodo não é direcionado a um governo específico.

Já do ponto de vista religioso, o Sínodo traz o ciúme de outras denominações cristãs que atuam na região amazônica, muitas delas também com poder político e associação clara ao governo.

Por fim, mas não menos importante, estão as pesadas críticas que Francisco sofre dentro da própria Igreja, por parte de grupos ultraconservadores que reagem a qualquer ação do Papa com uma resistência baseada numa visão medievalista. São grupos que disseminam Fake News, notícias falsas, que acusam Francisco de ser comunista e – pasmem - até mesmo agente da KGB, antigo serviço secreto da União Soviética. É bom lembrar que nem um nem outro existem mais. Foram dissolvidos no século passado.

Os ataques a Francisco não param por aí... até de Anticristo ele está sendo chamado por grupelhos que afirmam que ele vai destruir a Igreja para transformá-la numa ONG de proteção ao meio-ambiente.

O meio-ambiente é, sim, um dos temas do Sínodo, que vai englobar, ainda, a ação católica junto aos povos indígenas, que, segundo Francisco, não deve mais ser impositiva. Proteger e ajudar os necessitados deve estar à frente até da própria conversão. A falta de padres na imensa região leva a Igreja a discutir duas possibilidades que atormentam os conservadores: aumentar a possibilidade de atuação das mulheres nas funções hoje reservadas apenas aos sacerdotes e, até mesmo, a permissão para que homens casados, já de mais idade, se tornem padres.

Para os conservadores, isso seria o primeiro passo para acabar com a obrigatoriedade do celibato para ser padre. É inadmissível para muitos cardeais, que se preocupam mais com a tradição do que com a falta de pastores para cuidar do rebanho disperso pela floresta.

Na verdade, o Papa já é reconhecido como autoridade máxima de 23 igrejas que permitem padres casados. São as igrejas católicas de rito oriental, espalhadas por países do Leste Europeu e do Oriente Médio, como a Copta, a Maronita, a Melquita e a Caldéia. Além de aceitarem padres casados, essas igrejas mantêm seus milenares ritos próprios, criados no longo tempo em que estiveram separadas do Vaticano. É uma prova de que o Catolicismo é muito mais abrangente e diverso do que certos grupos ultraconservadores pregam.

Que Deus proteja Francisco em sua missão pastoral contra tantos e tão poderosos inimigos!

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