Brasil mete a mão no vespeiro!
O adeus à neutralidade brasileira no Oriente MédioA diplomacia brasileira conseguiu, ao longo do século passado e neste início do século 21, criar uma imagem de respeitabilidade do Brasil perante os conflitos internacionais.
Muito ao contrário das potências militares, como Estados Unidos, seus aliados europeus e Rússia, os governos brasileiros sempre escutaram a voz da diplomacia e evitaram dar apoio a esse ou aquele lado nos conflitos internacionais, preferindo esperar a decisão majoritária da Organização das Nações Unidas, a ONU.

Mas isso parece ter terminado.... O presidente Jair Bolsonaro anunciou que vai declarar o movimento libanês Hesbollah (do árabe, Partido de Deus) como uma organização terrorista.
O Hesbollah, que representa a maior comunidade muçulmana do Líbano, a xiita, é uma organização militar, nascida durante a resistência à ocupação israelense do território libanês, em 1982. Mas é, também, um partido político que faz parte do governo de coalizão do Líbano, indicando 1/3 dos ministros.
Eis aí o risco... ao dizer que o Hesbollah é terrorista, o Brasil se declara inimigo do próprio governo libanês, que considera o movimento como parte integrante e legítima das forças políticas locais. O Hesbollah faz parte de um governo que une todos os grupos religiosos e que se esforça para superar as dores dos 15 anos de guerra civil no Líbano, entre 1975 e 1990.
Oras, como seria se tivéssemos um grande partido brasileiro declarado como terrorista por um governo estrangeiro? Certamente, consideraríamos como uma intervenção maléfica nos assuntos de nosso próprio país.
Israel, que vive em escaramuças com o Hesbollah, bem como Estados Unidos e alguns países europeus aliados, também consideram o movimento como terrorista. A Argentina o fez recentemente, apontando agentes do Hesbollah como autores dos atentados a bomba que mataram dezenas de pessoas em Buenos Aires, em 1994.
Os atentados contra a embaixada de Israel e contra uma associação judaica ocorreram depois do governo argentino ter enviado militares para ajudar a coalizão internacional que combateu o regime do ditador iraquiano Saddam Hussein, em 1991.
A conclusão óbvia é que ter deixado de lado a neutralidade naquele barril de pólvora que é o Oriente Médio, colocou a Argentina na rota do terrorismo internacional.
Por isso, interessa mesmo deixar a neutralidade de lado, declarando-se inimigo de um lado em conflito? Ou é melhor mantermos nosso distanciamento político, podendo até servir como agentes conciliadores no futuro?
Deixamos de lado a neutralidade que nos faz ter relações diplomáticas e comerciais com todos os países muçulmanos e também com Israel. Vamos lembrar que, após a Segunda Guerra Mundial, o Brasil votou a favor da partilha do antigo protetorado britânico na palestina, reconhecendo o direito à existência do Estado Judeu e, como decidido pelo acordo negociado pela ONU, também de um Estado Árabe-Palestino, promessa ainda não concretizada. E, desde então, temos mantido ótimas relações, inclusive comerciais, com todos os países da região.
O agronegócio brasileiro, com milhares de famílias no campo, depende desse bom relacionamento.
Prova disso, é que o presidente Bolsonaro, após anunciar que mudaria a embaixada brasileira em Israel de Telavive para Jerusalém, resolveu adiar a mudança, pressionado pela ameaça de boicote dos países muçulmanos aos produtos brasileiros. Só para lembrar, os países muçulmanos defendem Jerusalém - cidade de onde o Profeta Maomé ascendeu ao céu, conforme os escritos sagrados - como capital do futuro Estado Palestino.
Mas não é só o comércio que importa nessa relação... Cerca de 6 milhões de brasileiros são descendentes de libaneses, a quem interessa, e muito, ver nossos dois países como irmãos.
E transformar uma das mais importantes forças políticas do Líbano em inimigo, não trará nada de bom para a relação entre nossos países.
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