Saúde mental de janeiro a janeiro; por Amanda de Deus
Solidariedade e empatia todos os dias do ano!Há alguns anos movimentos surgiram com intuito de conscientizar as pessoas em relação a algumas doenças, tais como: câncer de mama, câncer na próstata, prevenção ao suicídio, etc.. Tenho certeza que os nomes das campanhas automaticamente brotaram em sua mente; outubro rosa, novembro azul e setembro amarelo.
Sabemos que o mês de setembro, o setembro amarelo, é o mês escolhido para propagar conhecimento acerca da prevenção ao suicídio, e por que escrevo essa coluna em outubro? Justamente para trazer a reflexão da importância de “batermos nessa tecla” sempre, infelizmente a sociedade evita tocar nesse assunto, aumentando ainda mais o preconceito e estigma contra aqueles que tentam ou pensam em tirar a própria vida.
Em alguns momentos da vida o sofrimento se faz tão grande e avassalador que a dor parece ser insuportável, parece que não haverá saída para tamanha tormenta, algumas pessoas que passam por esse deserto emocional chegam até mesmo a pensar em tirar a própria vida. Pouco provável que você não conheça alguém que tenha passado por isso, ou até mesmo você seja essa pessoa. De antemão já adianto que o objetivo é colocar fim ao sofrimento, e não a vida propriamente dita.
Ao refletir sobre esse sofrimento convidei a psicóloga Cristiane Gervásio CRPMT 18/05935, [especialista em Terapia Cognitivo- Comportamental pela PUC- RS, especialista em Comportamento Alimentar pelo IPGS e pós-graduanda em Neuropsicologia pelo IPOG] para esclarecer questões relacionadas ao tema. Nada mais coerente do que buscar de um profissional da saúde mental ferramentas para construir nas pessoas formas de amparar aqueles que necessitam de apoio, e quem sabe se ajudar, talvez é você essa pessoa que esta em sofrimento.
Quais são os sinais de alerta que indicam que uma crise está se desenvolvendo?
Psicóloga Cristiane Gervásio: É importante observarmos os sinais de que uma crise está se desenvolvendo para prevenir o risco de suicídio. Quando a pessoa recebe o apoio necessário, as chances dela se engajar em um comportamento suicida são muito menores, até mesmo nulas. Portanto, é necessário ficar atento a alguns sinais:
- Se a pessoa repentinamente se torna agressiva, impaciente, ou se está mudando o seu comportamento de uma hora para outra.
- Se você perceber que a pessoa está ficando mais isolada, não quer sair de casa ou do quarto, não atende telefonemas, não quer falar amigos.
- Se perceber que a pessoa tem falado mais sobre morte do que o normal, se tem demonstrado um sentimento de desesperança, culpa excessiva por situações do passado ou presente, se está apresentando em sua fala uma visão negativa de si, dos outros e do futuro.
Além disso, outros fatores que podem influenciar uma crise suicida é se a pessoa passou por perdas, que podem ser perdas materiais, emprego, morte na família. E, outro aspecto importante é se tem percebido que existe um uso abusivo de álcool ou outras drogas.
Existem algumas frases que podem evidenciar uma crise, tais como: "Eu sou um peso para os outros." " estou cansado da vida." "Queria dormir e não acordar mais."
Quais são as estratégias de enfrentamento interna que o paciente pode fazer?
Psicológa Cristiane Gervásio: Quando já existe uma ideação suicida (que é quando a pessoa tem ideias sobre se matar e ela pensa em como fazer isso) ou se teve algum comportamento suicida, fez alguma tentativa, o ideal é buscar tanto atendimento psiquiátrico, quanto no psicológico. Também é possível buscar atendimentos em unidades de Saúde mental como como o CAPS e/ou entrar em contato com o CVV.
Junto com esse acompanhamento é importante a pessoa se voltar para atividades que antes desse período de crise, traziam prazer para ela. Estar com pessoas que são importantes e que fazem ela se sentir bem. Praticar alguma atividade física.
Quais os mitos em torno do comportamento?
Psicóloga Cristiane Gervásio: Existem vários mitos quando o assunto é suicídio, como por exemplo: “quem fala que quer se matar está querendo chamar atenção”, “quem diz que quer se matar é porque não tem o que fazer, tem que se ocupar mais”, “suicídios ocorrem sem aviso”, etc. A verdade é que a maioria das pessoas que cometem suicídio, avisam sobre a sua intenção, isso ocorre como uma forma de pedir ajuda, então não negligencie quando alguém te falar sobre isso, acolha essa pessoa, ouça o que ela tem a dizer, pergunte como você pode ajudá-la, ajude-a a buscar atendimento. Não diminua a dor dos outros dizendo que ela precisa se ocupar mais, sim fazer algumas atividades podem ajudar, mas dizer isso só vai fazer com que a pessoa se sinta mais incapaz. Se disponha a fazer algo com essa pessoa, convide – a, esteja presente. Na maioria dos casos haverá um aviso prévio, estar atento a esse aviso, pode prevenir esse acontecimento.
Como promover esperança no paciente com ideação suicida?
Psicóloga Cristiane Gervásio: Através da psicologia e da abordagem da terapia cognitivo-comportamental que é a que eu utilizo nos atendimentos, nós iremos instilar esperança ao paciente ajudando-o a visualizar alternativas, visualizar que ele já passou por momentos melhores, que existem alternativas para lidar com o que está lhe causando sofrimento e que tem formas melhores de lidar, mas tudo isso vai ser feito através de uma boa avaliação e o entendimento do que levou ele a chegar nessa crise.
De forma geral, é importante as pessoas entenderem que existem alternativas, que existem tratamentos adequados e formas diferentes de lidar com as dificuldades que elas estão enfrentando. É importante também destacar que não é só querer sair de uma crise, o tratamento é necessário para que se possa sair da crise. E o padrão ouro de tratamento é justamente o acompanhamento psiquiátrico e psicológico.
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A psicóloga Cristiane Gervásio trouxe informações valiosíssimas, adquirimos ferramentas para usarmos a favor da vida, pois aprendemos quais os sinais de alerta que indicam quando uma crise começa a se desenvolver, como a pessoa em sofrimento pode se ajudar, os mitos em torno do comportamento, bem como a possibilidade de esperança a ser promovida no paciente. Vamos ajudar mais e julgar menos!
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