Setembro Amarelo: mais policiais se matam do que são mortos em confrontos
Precisamos falar de suicídio!A campanha nacional Setembro Amarelo foi criada para alertar a população sobre uma pandemia mundial que atinge fortemente o Brasil e, muito intensamente, o Piauí.
O suicídio já está entre as maiores causas de mortes entre nossos jovens.
Em Teresina, a proporção é duas vezes maior que em outras capitais do mesmo porte, como Maceió e Natal.
Repressão sexual e não aceitação no seio da própria família, falta de oportunidades profissionais num país em crise, fácil acesso a drogas e alcoolismo, ansiedade, depressão... enfim, os ingredientes estão aí e são muitos, por isso, a sociedade não pode fechar os olhos para esse grande mal que nos aflige.
Em determinados seguimentos profissionais, os números são ainda mais alarmantes que na população brasileira como um todo.
O Fórum Brasileiro de Segurança Pública informa que mais policiais (108) se mataram em 2018 no Brasil do que foram mortos em confronto com o crime (87).
Para um país com 210 milhões de habitantes, essas mortes parecem poucas... Mas não são, representam uma porcentagem de suicídios 3 vezes maior (23,9%) do que a registrada na sociedade (5,8%), por grupo de 100 mil habitantes.
Mas por que os policiais estão se matando tanto?
A Ouvidoria da Polícia do Estado de São Paulo analisou o assunto e divulgou, nesta semana (25/09), um relatório apontando ao menos 8 fatores influenciadores do suicídio entre os policiais: fácil acesso à arma, conflitos institucionais, subnotificação de tentativas de suicídio, conflitos familiares e problemas financeiros, isolamento social, rigidez e introspecção, estresse inerente à função, depressão e falta de suporte de serviço de saúde mental.
Os policiais sofrem de depressão, mas não recebem socorro institucional, resumindo...
E os motivos para a depressão, não faltam, é claro... Salários que não ajudam a fechar a conta de despesas no final do mês e que obrigam o policial, no horário de descanso, a fazer bicos em áreas perigosas. Outro ponto, a baixa autoestima, já que a polícia é constantemente estigmatizada, associada como um todo à violência desmedida e à corrupção. Imagens que são exploradas no mundo real - da imprensa e das redes sociais - e no mundo ficcional, em filmes e novelas.
Afinal, quem pode manter a autoestima sabendo que sua profissão é, quase todo o tempo, criticada pela sociedade e negligenciada pelas autoridades?
Esse trabalho pela melhoria do bem-estar psicológico dos policiais passa, primeiramente, pela maior atenção dos governos que os empregam e por uma Política Nacional de Segurança que fortaleça o trabalho investigativo da polícia como forma de combater o crime na sua origem, reduzindo a necessidade da ação repressiva violenta.
Nos Estados Unidos, o bem-sucedido combate ao crime organizado nos anos 80 passou pelo trabalho conjunto das três esferas, municipal, estadual e federal.
A adoção da Lei da Tolerância Zero nas grandes cidades norte-americanas, ou seja, que o cidadão deveria ser punido exemplarmente com multa por cada pequena infração, de jogar lixo na rua a pichar uma parece sem autorização prévia, provocou o efeito que o filósofo australiano Peter Singer define como Círculo Virtuoso: uma boa ação inspira quem a vê, ou seja, uma rua limpa, incentiva as pessoas a manterem-na assim; já uma rua pichada e suja, traz a sensação de abandono e atrai a delinquência para ali.
As cidades reconstruíram suas forças policiais. Nova York trocou 90% da corporação ao longo de uma década por suspeita de envolvimento com a antes poderosa Máfia local. Trabalhou a imagem social da polícia e reforçou a autoestima do profissional. O policial que morre em serviço tem enterro de herói, com cortejo fúnebre fechando as ruas de Manhattan em plena luz do dia, para que todos saibam que um agente da lei está sendo homenageado.
O trabalho conjunto das três esferas (Federal, Estadual e Municipal), o uso da investigação e a revalorização da imagem da polícia conseguiram reduzir a criminalidade nas grandes cidades norte-americanas aos índices dos anos 70.
A receita já existe e cabe a nossos governos aplicar: para termos cidades mais seguras, precisamos ter também policiais mais respeitados e valorizados.
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