Maria das Graças Targino

Doutora em Ciência da Informação, Universidade de Brasília, e jornalista, finalizou seu pós-doutorado junto ao Instituto Interuniversitario de Iberoamérica da Universidad de Salamanca, Espanha. Sua experiência acadêmica inclui, ainda, cursos em países, como Inglaterra, Cuba, México, França e Estados Unidos. Tem produzido artigos, capítulos e livros em ciência da informação e comunicação, enveredando pela literatura como cronista. Depois de vinculação com a Universidade Federal do Piauí por 25 anos e com a Universidade Federal da Paraíba por 14 anos, hoje, dedica-se à literatura, especificamente, ao jornalismo literário e a crônicas.
Doutora em Ciência da Informação, Universidade de Brasília, e jornalista, finalizou seu pós-doutorado junto ao Instituto Interuniversitario de Iberoamérica da Universidad de Salamanca, Espanha. Sua experiência acadêmica inclui, ainda, cursos em países, como Inglaterra, Cuba, México, França e Estados Unidos. Tem produzido artigos, capítulos e livros em ciência da informação e comunicação, enveredando pela literatura como cronista. Depois de vinculação com a Universidade Federal do Piauí por 25 anos e com a Universidade Federal da Paraíba por 14 anos, hoje, dedica-se à literatura, especificamente, ao jornalismo literário e a crônicas.

Ser mulher, ser Maria

"Lembrar que vamos morrer é a melhor maneira que conheço para evitar a armadilha de acharmos que temos algo a perder. [...]"

Lembrar que vou morrer logo é a ferramenta mais importante que encontrei para me ajudar nas grandes escolhas da vida. Porque quase tudo – todas as expectativas externas, todo o orgulho, todo o medo do fracasso ou da dificuldade – simplesmente desaparece diante da morte, deixando apenas o que realmente importa. Lembrar que vamos morrer é a melhor maneira que conheço para evitar a armadilha de acharmos que temos algo a perder. Você já está nu. Não há por que não seguir o que dita o coração [...] (Steve Jobs, 2011).

Portanto, não há razão alguma para desrespeitar a MULHER em qualquer dia do ano.

O Dia Internacional da Mulher aproxima-se. Revemos os movimentos que embalam a vida das mulheres ao longo das décadas. Feminismo. Empoderamento. Emancipação. Mulher além de seu tempo, na acepção negativa de “fora dos “padrões”, etc. etc. Confessamos, mais uma vez, que detestamos a aura que cerca tais tendências. Para nós, são expressões que rotulam a mulher contemporânea e contrapõem os gêneros e as orientações sexuais das pessoas. Confessamos, mais uma vez, nossa rejeição infinda à contraposição homem x mulher ou mulher x homem ou mulher versus travestibilidade e transexualidade ou homem versus travestibilidade e transexualidade.

A nós, importa o ser humano carregando nos ombros suas virtudes e suas eventuais falhas. Não podemos legitimar guetos – mulheres negras, pardas, brancas; cabelos crespos ou lisos ou afros; mulheres hetero ou homoafetivas; mulheres jovens, de meia idade (seja lá o que isto signifique) ou velhas; mulheres lindas ou de beleza exterior não deslumbrante; mulheres em ascensão social, econômica, profissional, mas, sobretudo, as grandes mulheres anônimas que batalham seu dia a dia. Necessitamos simplesmente lutar para alcançar sonhos sem destruir o outro; acalentar o próximo, com respeito e carinho, seja lá quem for. Alimentar a cumplicidade ao lado do companheiro ou companheira.

Dispensar rótulos é fundamental. Estes assemelham-se a empacotar os seres humanos, independentemente de seus traços singulares. Rotular significa tipificar, comparar, julgar / prejulgar pessoas a partir de suas características mais visíveis ou eventuais formas de comportamento. O rótulo atribuído a uma pessoa é, quase sempre, nocivo ou preconceituoso. De acordo com as convenções sociais, existem dois gêneros – masculino e feminino. Durante muito tempo, a identidade de gênero permaneceu atrelada ao sexo biológico dos indivíduos. No entanto, a travestilidade pede espaço. Refere-se a quem não se acomoda com o gênero biológico de seu nascimento. Então, veste-se e assume atitudes comportamentais como os indivíduos do sexo oposto. O transgênero, por sua vez, identifica-se com um gênero distinto do correspondente ao seu sexo, quando do nascimento. Com frequência, a transgeneridade surge ainda na infância, quando a criança rompe os estereótipos e encontra interesse maior em relação aos signos socialmente associados ao sexo oposto. É o menino que insiste em usar roupas de meninas, despreza a bola ou as brincadeiras de carrinhos. É a menina que abandona os laçarotes e chega a odiar os incômodos seios que teimam em despontar à sua revelia. E todos eles ou elas podem comemorar, sim, o Dia Internacional da Mulher, que acontece em muitos e muitos países, no dia 8 de março. Registros históricos apontam que a primeira celebração se deu nos Estados Unidos, em maio de 1908, quando mais de 1.500 mulheres externaram sua indignação diante da desigualdade política e econômica do país.

Por esta motivação norteadora de toda uma vida, sempre nos orgulhamos de ser simplesmente mulher, simplesmente Maria, disposta a caminhar ao lado de alguém, mesmo que adiante haja o risco de nos afastarmos nas vielas da vida repletas de armadilhas. Acreditamos, com veemência, que podemos ser profissionais comprometidas, donas de casa dedicadas, fêmea, sensual, traquinas e, com certeza, não importam os gritos das feministas, mulher de cama, mesa e fogão. Na cama, gerei meus filhos e vivi as delícias de paixões fugidias ou não, fulminantes ou passageiras. À mesa, sempre senti prazer em dispor as refeições para minha família. No convívio com o fogão, sempre me deliciei, antecipando o que adviria como produto.

Nunca, na verdade, nunca mesmo, precisamos recorrer ao termo – empoderamento – na acepção dicionarista de que se apoderar é tomar o poder, o domínio ou a posse de alguém ou de determinada situação. Empoderar como concessão de poder para si próprio ou para alguém. Dispor de força ou de autoridade para caminhar ou fazer caminhar os que nos cercam não faz parte de nossa essência. Aliás, se poder garantisse legitimidade à mulher no cotidiano, teríamos todas nós – mulheres que pegamos as rédeas de nossa existência sob a âncora da dignidade e coerência – de enfrentar os verdadeiros poderosos.

Estes, sim, têm poder sobre a luta dos trabalhadores e dos cidadãos no sentido pleno da palavra, não importa o gênero. Estão em organizações públicas e privadas, nos palácios, congressos, fóruns, tribunais, enfim, nas chamadas instituições sociais, na concepção de instrumentos reguladores e normativos das ações humanas, recorrendo a regras e procedimentos, quase sempre, de poder normativo e coercitivo. Ditam normas, muitas vezes, esdrúxulas. Geram filhos largados no mundo sem identidade ou sem amor. Esgueiram-se nos eternos conchavos e acordos. Tecem estratégias para angariar mais recursos. Escancaram o fosso social. Protegem os endinheirados. Exploram os lutadores. Esquivam-se dos empobrecidos, sem rosto e sem voz. Aproximam-se dos comparsas ou “parsas”.

Foto: Arquivo Pessoal cedido ao JTNEWSO suplício das “mulheres-girafa”, Myanmar, 2011
O suplício das “mulheres-girafa”, Myanmar, 2011

Enfim, não nos faz falta alardear as expressões feminismo, empoderamento e outros mais. Precisamos, sim, ser mulher, ser Maria que assume sua luta em meio a tropeços, alegrias e muitas tristezas, mas sem perder de vista quem está a nosso lado. Nada mais... Repetimos: mais ações, menos falácia e menos exagero.

Aliás, um bom exemplo de desproporcionalidade é a renúncia do presidente do comitê organizador dos Jogos Olímpicos de Tóquio 2020/2021, Yoshiro Mori, acusado de propagar comentários sexistas numa fala à mídia, quando disse que “as mulheres falam muito durante as reuniões de conselhos administrativos, o que para ele é irritante.”

Apesar das desculpas públicas e formais no dia seguinte, o caso ganhou repercussão nacional e internacional e a renúncia foi a melhor saída. Falar muito desmerece a mulher? Trata-se de inverdade? Mulheres silenciosas, vocês estão liberadas para nos jogar pedras! Somos marias atentas aos direitos das mulheres, à violência de gênero e ao feminicídio, mesmo distantes de guetos, classificações e tantos itens politicamente (in)corretos.

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