Silvio Barbosa

Professor concursado do Curso de Comunicação Social da UFPI, campus Teresina. Doutor em Comunicação e Mestre em Filosofia do Direito é advogado e jornalista, com 24 anos de experiência de mercado, tendo trabalhado em empresas como Rede CBS (Estados Unidos), Globo, Bandeirantes, Record e TV Cultura. Autor dos livros TV e Cidadania (2010) e Imprensa e Censura (no prelo) e dos documentários Vale do rio de lama - no rastro da destruição, e Sergio Vieira de Mello, um brasileiro em busca da paz no mundo.
Professor concursado do Curso de Comunicação Social da UFPI, campus Teresina. Doutor em Comunicação e Mestre em Filosofia do Direito é advogado e jornalista, com 24 anos de experiência de mercado, tendo trabalhado em empresas como Rede CBS (Estados Unidos), Globo, Bandeirantes, Record e TV Cultura. Autor dos livros TV e Cidadania (2010) e Imprensa e Censura (no prelo) e dos documentários Vale do rio de lama - no rastro da destruição, e Sergio Vieira de Mello, um brasileiro em busca da paz no mundo.

O Piauí reescreve a história da Humanidade

Bem vindos ao Parque Nacional da Serra da Capivara

Imagine um tempo muito antes do tempo... uma época tão recuada em que os egípcios sequer sabiam construir pirâmides, os chineses ainda não tinham colocado o primeiro tijolo da Grande Muralha, os gregos ainda não filosofavam, e nem mesmo o Patriarca Abraão tinha deixado a Mesopotâmia em direção à Terra Prometida.

Pois, nessa época antes da história nascer, os antepassados dos piauienses, os primeiros homens das Américas, já estavam decorando os paredões da Serra da Capivara, no sul do Piauí, área de transição entre Cerrado e Caatinga, mas com grotões de, acreditem, Mata Atlântica.

Até há dez mil anos, essa região do semi-árido ainda era cortada por rios caudalosos, atraindo, por sua fertilidade e quantidade de caça, os povos nômades, que deixaram suas visões de mundo nas pinturas rupestres e gravuras nos paredões. Elas começaram a deslumbrar o mundo com as expedições da arqueóloga paulista Niède Guidon, lá no início dos anos 1970.

Com a vida dedicada à pesquisa arqueológica, Dra. Niède lutou para construir o Parque Nacional da Serra da Capivara, patrimônio mundial da ONU, e erguer dois museus – do Homem Americano, na vizinha São Raimundo Nonato, e o novíssimo Museu da Natureza, bem dentro do parque - dedicados a democratizar o conhecimento para os moradores locais e para os turistas que chegam do mundo todo.

Graças às descobertas das equipes de Dra. Niède, o Piauí entrou para o mapa científico mundial como o local com a cerâmica mais antiga já descoberta nas Américas, com 8 mil anos. E não para por aí... restos de fogueiras feitas pelo homem foram datados em 50 mil anos, muito mais antigos, portanto, do que a teoria clássica que dizia que os primeiros humanos teriam chegado ao Continente Americano pela ponte de gelo que teria se formado na última Era Glacial, há 15 mil anos, no Estreito de Bering, que separa a Ásia da América do Norte.

Ossadas e pedras lascadas, encontradas em diversas escavações na Serra da Capivara e arredores, ajudaram a fortalecer a ainda muito criticada teoria da travessia oceânica, ou seja, a de que os primeiros humanos teriam vindo para as Américas muito tempo antes da Glaciação, pelo mar, em canoas, tanto da África quando da Austrália e Polinésia, já que nesse período glacial o nível dos oceanos era 140 metros mais baixo, permitindo a existência de inúmeras outras ilhas entre os continentes, formando escalas seguras para os viajantes.

Visitemos a Serra da Capivara



Minha primeira visita à Serra da Capivara, em busca de conhecer essas maravilhas, foi em 1994, quando muito desse conhecimento, que nossos livros hoje apresentam, ainda estava coberto pela areia. Voei de São Paulo para Petrolina, peguei um transfer que percorreu o interior da Bahia e cheguei a São Raimundo Nonato, sede da Fundação do Homem Americano, a FUNDHAM, e única cidade, na época, com hospedagem e conforto para os ainda poucos turistas.

Desde que adotei o Piauí como lar, há um ano e meio, já visitei a Serra da Capivara mais três vezes. E pude perceber o avanço que a FUNDHAM e sua ciência do passado trouxeram para toda a região. Hoje, já é possível escolher a hospedagem, do camping ao hotel com todos os confortos, e não apenas em São Raimundo Nonato, mas também nas cidades e povoados vizinhos ao Parque Nacional.

O turismo trouxe progresso e empregos para uma região que tem tudo para virar um polo turístico mundial, já que agrega natureza exuberante, tesouros pré-históricos e dois museus modernos, que unem o lúdico e o saber através da tecnologia. O novíssimo Museu da Natureza, inserido em meio à mata do sertão, oferece até o sobrevoo virtual de asa delta pelos cânions da Serra. O passado e o futuro caminham juntos para entreter o turista e ensinar.

Meu deslumbramento diante da Serra da Capivara, infelizmente, não é unânime aqui em Teresina. Quando falo das maravilhas da região, percebo até um certo constrangimento de colegas piauienses que jamais pisaram por lá. Gente que fala orgulhosamente do Museu do Louvre, em Paris, ou do Metropolitan, de Nova York, também tesouros culturais da humanidade que merecem ser visitados... Merecem sim, mas precisamos voltar nossos olhos, e já, para o patrimônio mundial aqui bem perto, há sete horas de carro de Teresina.

O moderno aeroporto de São Raimundo Nonato já recebe voos privados, o que ainda é pouco. É preciso que recebamos voos comerciais regulares que, aí sim, colocarão esse belo sertão de vez nas rotas das agências turísticas.

Nas duas últimas visitas que fiz ao Parque, me surpreendi com o estacionamento lotado do Museu da Natureza. Carros da Bahia, Ceará, Pernambuco... o sertão todo vindo aprender e se deslumbrar com o os tesouros do sul do Piauí.

Dra. Niède Guidon, prestes a completar 50 anos de Piauí, mais uma vez mostrou que tem o toque de Midas – o lendário rei da Ásia Menor que transformava em ouro tudo o que tocava - e está conseguindo atrair famílias inteiras, pais e filhos, para o conhecimento.

Valorizar nossa história, nosso patrimônio mundialmente reconhecido, é mais do que necessário para elevarmos nossa autoestima como brasileiros, nossa sensação de pertencimento, nossa condição de cidadãos. Visitemos o Parque Nacional da Serra da Capivara!

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