Maria das Graças Targino

Doutora em Ciência da Informação, Universidade de Brasília, e jornalista, finalizou seu pós-doutorado junto ao Instituto Interuniversitario de Iberoamérica da Universidad de Salamanca, Espanha. Sua experiência acadêmica inclui, ainda, cursos em países, como Inglaterra, Cuba, México, França e Estados Unidos. Tem produzido artigos, capítulos e livros em ciência da informação e comunicação, enveredando pela literatura como cronista. Depois de vinculação com a Universidade Federal do Piauí por 25 anos e com a Universidade Federal da Paraíba por 14 anos, hoje, dedica-se à literatura, especificamente, ao jornalismo literário e a crônicas.
Doutora em Ciência da Informação, Universidade de Brasília, e jornalista, finalizou seu pós-doutorado junto ao Instituto Interuniversitario de Iberoamérica da Universidad de Salamanca, Espanha. Sua experiência acadêmica inclui, ainda, cursos em países, como Inglaterra, Cuba, México, França e Estados Unidos. Tem produzido artigos, capítulos e livros em ciência da informação e comunicação, enveredando pela literatura como cronista. Depois de vinculação com a Universidade Federal do Piauí por 25 anos e com a Universidade Federal da Paraíba por 14 anos, hoje, dedica-se à literatura, especificamente, ao jornalismo literário e a crônicas.

Mortos em vida

Afinal, solidão nem é a falta de pessoas ao redor da gente nem tampouco a falta que sentimos de nossos entes queridos que partiram para o céu diáfano

Novo dia de finados que se aproxima. Nova ida ao cemitério e/ou ao templo, qualquer que seja a crença. Nova oportunidade de limpar os túmulos, onde jazem os restos mortais dos que partiram e que, durante um intervalo de tempo, fizeram parte de nossa vida. Nova chance de apaziguar a consciência por erros cometidos na convivência dos que se transmutaram em estrelas luminosas nos céus ou em peixinhos dourados que pairam no fundo do mar. Novo momento de reviver instantes fugidios de felicidade. Muitos sentimentos embaralhados, confusos e difusos.

Afinal, todos nós, salvo raríssimas exceções, sofremos perdas em vida. Grandes perdas. Perdas que persistem como ganhos de dor. Muita dor. Porém, de repente, não mais do que de repente, sinto vontade suprema de chorar mil choros. Lamento os que perdi ainda em vida. Perdas incontáveis. Pessoas que traíram minha confiança, meu amor, minha amizade, meu bem-querer. Pessoas que me negaram colo ou um ombro para me apoiar quando de minhas estações de desesperança. Pessoas que fingiram não se dar conta de minha solidão, de minha quarentena em vida, independentemente de qualquer pandemia. Pessoas que me utilizaram como trampolim para os saltos efêmeros da vida, acreditando, talvez, na escalada montanhosa vitoriosa, e não íngreme, sem lembrar que há pântanos por todos os lados. Pântanos, na acepção de regiões inundadas por águas estagnadas e fétidas, atoleiros e lamaçais.

A essas pessoas – e não foram poucas – devo direcionar um olhar de indulgência e de perdão, de complacência e de compaixão para que ressuscitem em sua plenitude, a cada dia, em busca de ser uma pessoa melhor, capaz de cultivar elementos máximos da grandeza humana – a amizade e a gratidão. É a certeza de que, para nós, presentes dentre os vivos, a passagem e/ou a morte é mera transformação. Fenece o corpo. Ressurge a alma. E os túmulos ora visitados simbolizam tão somente a porta para a imortalidade com seus mistérios insondáveis e segredos impenetráveis à razão humana. Para os que optaram pela cremação, suas cinzas, perdidas em águas de mares profundos ou em terras férteis ou áridas por aí afora, representam a lembrança e, quiçá, uma doce saudade.

De qualquer forma, é evidente que a vida significa tudo o que sempre significou, a depender das expectativas que nutrimos, da tapeçaria de opções que tecemos ao longo do caminho. Há uma inquebrantável continuidade. Por tudo isto, lembremos dos que perdemos – em morte ou em vida – para que dimensionemos sempre um lugar de espera, de reencontro e de perdão. Pode ser aqui. Ali. Numa esquina qualquer. Num parque florido. Numa vereda plana e de extasiante beleza. Num vale florido à beira de um ribeirão. Só não vale recorrer ao “vale de lágrimas”, quando enxergamos o mundo visto como local de sofrimentos insuportáveis.

Afinal, solidão nem é a falta de pessoas ao redor da gente nem tampouco a falta que sentimos de nossos entes queridos que partiram para o céu diáfano e transparente. Solidão é muito mais do que tudo isto. Solidão é a sensação de fracasso, quando buscamos dentro de nós mesmos nossos sonhos e não os encontramos mais em qualquer lugar d’alma que seja. Eles se foram levando consigo nossas alegrias e esperanças. Para sempre!

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