Silvio Barbosa

Professor concursado do Curso de Comunicação Social da UFPI, campus Teresina. Doutor em Comunicação e Mestre em Filosofia do Direito é advogado e jornalista, com 24 anos de experiência de mercado, tendo trabalhado em empresas como Rede CBS (Estados Unidos), Globo, Bandeirantes, Record e TV Cultura. Autor dos livros TV e Cidadania (2010) e Imprensa e Censura (no prelo) e dos documentários Vale do rio de lama - no rastro da destruição, e Sergio Vieira de Mello, um brasileiro em busca da paz no mundo.
Professor concursado do Curso de Comunicação Social da UFPI, campus Teresina. Doutor em Comunicação e Mestre em Filosofia do Direito é advogado e jornalista, com 24 anos de experiência de mercado, tendo trabalhado em empresas como Rede CBS (Estados Unidos), Globo, Bandeirantes, Record e TV Cultura. Autor dos livros TV e Cidadania (2010) e Imprensa e Censura (no prelo) e dos documentários Vale do rio de lama - no rastro da destruição, e Sergio Vieira de Mello, um brasileiro em busca da paz no mundo.

A Ucrânia é a bola da vez no expansionismo da Rússia

Só que a resistência da população joga um balde de água fria em Putin

A fórmula é simples: um ataque maciço, surpresa, contra o inimigo. Foi testada com sucesso por Adolf Hitler na invasão da Polônia, em 1939, dando início à Segunda Guerra Mundial. E em seguida, Hitler repetiu o sucesso conquistando Bélgica e Holanda, Dinamarca e França, todas derrotadas em menos de 3 semanas de combates. Daí, a Blitzkrieg (guerra relâmpago) avançou rapidamente pela Ucrânia para esmagar a União Soviética. Mas Hitler foi surpreendido pela arrogância e pela resistência.

Os soviéticos perderam 20 milhões de cidadãos, mas detiveram o avanço alemão, em Leningrado e em Stalingrado, o que marcou o início do fim do regime nazista.

Foto: agências internacionaisDestruição após bombardeio russo
Destruição após bombardeio russo na Ucrânia

Século 21. Desta vez, a Blitzkrieg foi lançada, de surpresa, a partir de Moscou. O ditador Vladimir Putin, autocrata há 20 anos governando a Rússia, jogou pela janela doze anos de esforços diplomáticos para resolver a questão fronteiriça com a vizinha Ucrânia.

Historicamente unidos, por séculos de governo comum, tanto durante o Império Russo quanto durante o Império Soviético, ucranianos e russos tem parentes dos dois lados da fronteira, criada com o desmembramento da União Soviética e o surgimento de 15 repúblicas independentes, entre elas a Ucrânia de hoje.

Nesses 30 anos de independência, 20 o são com Vladimir Putin controlando, direta ou indiretamente, a poderosa vizinha Rússia. Putin é autoritário, um déspota que manda prender opositores e matar aqueles que conseguem fugir para o exterior. São muitos os casos noticiados na imprensa, principalmente de envenenamento.

Nesse tempo no poder, Putin esmagou o separatismo interno, como a guerra que devastou a Chechênia, território russo de maioria muçulmana no Cáucaso. E ao mesmo tempo em que massacrou o separatismo interno, Putin armou o separatismo em países vizinhos, como forma de puni-los por tentarem se afastar da influência russa.

Foi assim com a pequena Geórgia, que perdeu uma parte de seu território porque ameaçou se aproximar dos Estados Unidos e de sua aliança militar, a OTAN. E de 12 anos para cá, Putin agiu da mesma maneira na Ucrânia, incentivando a minoria de origem russa a se levantar em regiões fronteiriças.           

Primeiro, anexou a estratégica região da Criméia – conquistada aos turcos pelo Império Russo no século 18, mas doada à Ucrânia por Moscou nos anos 50 do século passado. Armado até os dentes, Putin quis corrigir o que considerava um erro histórico. Mas não parou por aí. Com essa mesma desculpa de direitos históricos e de proteção das minoria de origem russa, agora invade a Ucrânia que, escandalosamente - como ele pensa - estava flertando com os Estados Unidos e com a OTAN.

Mas desta vez, a Blitzkrieg russa perdeu o fôlego. Putin estava certo de que o avanço sobre a capital ucraniana, Kiev, seria um passeio para seus soldados. Esperava, dentro de sua mentalidade fechada, viciada pelo isolamento do poder absoluto, que os ucranianos se rendessem sem lutar. Não é isso o que está acontecendo. Os ataques pelo norte, oeste e sul da Ucrânia são um pesadelo para os defensores, que não podem concentrar as tropas. Só que a população entrou na luta.

A resistência surpreendeu até os serviços secretos das potências ocidentais que esperavam uma derrota rápida do inexperiente presidente ucraniano Volodymyr Zelensky. Ele é um ator de TV, um comediante que se tornou famoso criticando a velha e corrupta burocracia política ucraniana.

Nas urnas, esmagou os concorrentes à presidência, incluindo os aliados de Vladimir Putin. 75% dos votos a favor do novato que prometeu um governo sem corrupção. Sem experiência política nenhuma, Zelensky quis negociar de igual para igual com o maquiavélico Putin. E deu no que deu. O otimista presidente ucraniano subestimou o rival até o último momento, tranquilizando a população de que os russos não atacariam, mesmo com Joe Biden, presidente dos Estados Unidos, dizendo que a invasão era questão de dias.

Biden estava certo. Putin invadiu mas até agora não levou. Zelensky, que fracassou na diplomacia, agora mostra que é um bom líder na resistência e a população tem respondido ao seu apelo para ajudar as forças armadas.

E é por causa dessa resistência inesperada, que Putin propôs reabrir as negociações. Vamos torcer que deem certo. Custarão muito caro à Ucrânia, que ficará menor, certamente perdendo os territórios fronteiriços com a Rússia, que quer uma ligação terrestre direta com a Criméia já anexada. Mas ao menos, essa paz dolorosa salvará a vida de milhares de pessoas, poupando o sofrimento da fome e da guerra aos 40 milhões de habitantes do país.

Essa paz, com gosto amargo de rendição, também trará alívio para um mundo preocupado com o risco de um confronto nuclear entre as potências.

Já Putin, massageará seu ego como o poderoso dirigente russo que venceu outra guerra e recuperou territórios da Grande Mãe Rússia. Vai ganhar ponto com os ultranacionalistas e com a extrema-direita, mas perderá, de vez, a imagem de estadista.

Putin entra, isto sim, para o triste rol dos autocratas sanguinários, como seu antecessor comunista Josef Stalin.

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